A escolha do vinho também deve levar em linha de conta a formalidade da ocasião. Nunca me esqueço de um passeio de barco que fiz no Sado – para ver os golfinhos – onde o prato forte era uma sardinhada em frente ao Portinho da Arrábida. Como havia alguns convivas supostamente entendidos em vinhos, houve um deles que se lembrou de levar várias garrafas de Barca Velha. No fim do repasto estava inconsolável, pois toda a gente deu importância às sardinhas, ao banho de mar e à beleza da Arrábida, mas não se lembraram do famoso Barca Velha, que apenas queriam fresquinho por causa do calor que se fazia sentir! Teria sido muito melhor um rosé seco, bem fresco, um verde branco ou até um tinto ligeiro e com boa acidez, com a vantagem de qualquer um ser incomparavelmente mais barato que o Barca Velha. Pode-se, portanto, concluir que para ocasiões descontraídas, ao ar livre, com bastante gente, tempo quente e vários centros de interesse, o vinho deve ser, também, descontraído, ligeiro, refrescante, de beber fácil e barato. Quando a recepção é dentro de casa haverá, talvez, mais formalismo e os vinhos poderão ser outros. Mas mesmo nesta situação há momentos muito diferentes. Por exemplo, se a refeição for em pé, atendendo ao elevado número de pessoas, continuará a haver bastante informalidade, devendo os vinhos estar em consonância. Há mesmo quem diga que nestas situações só se deve servir vinho branco, para não se correr o risco de manchar as carpetes!
A escolha dos vinhos para um momento solene, como a boda de um casamento, já merece mais atenção, embora o elevado número de convidados aconselhe a não escolher vinhos especiais e muito caros. De facto, todas as atenções estão viradas para os noivos, pelo que o vinho passará sempre para segundo plano. A única excepção é quando o pai da noiva ou do noivo são enólogos! Neste caso terão de estar presentes as suas melhores obras de arte, pois todos os convidados estarão na expectativa de saber qual a escolha do “mestre” e, também, de beber o melhor.
Nesta altura já se justifica a pergunta: então qual é o momento em que se devem abrir os grandes vinhos? Regra geral, esses momentos são raros, salvo se, por razões profissionais – se forem enólogos, produtores, críticos, etc. –, se proporciona frequentemente a ocasião. E ainda bem que assim é, pois beber grandes vinhos todos os dias levaria à sua banalização e à perda do seu maior encanto – a raridade. O momento de abrir a garrafa especial surge quando o número de pessoas for restrito, isto é, não superior a três ou quatro, todas gostarem de vinho e todas tiverem sensibilidade e sentido crítico apurado. Nessa altura, estão reunidas as condições para o vinho ser o alvo de todas as atenções (nem a comida é muito importante) e proporcionar momentos de bela conversa e grande prazer. E, então, quando os vinhos excedem as expectativas, são momentos mágicos que ficam, por muito tempo, na memória de todos.